terça-feira, 29 de julho de 2008

Mais um Recado da República das Bananas


Jardim aparece mais uma vez em público para enviar um ‘recadinho para o continente’. Desta vez aproveitou para dizer que o favoritismo do PSD de Manuela Ferreira Leite em relação ao PSD Açores quando comparado com o PSD Madeira, deve-se ao facto do líder regional ter uma veia popular muito saliente que o leva a relacionar-se de forma muito próxima e amistosa com o seu povo. Por outro lado, Jardim gritou bem alto que é vergonhoso os portugueses terem José Sócrates como líder nacional, um mentiroso, um verdadeiro insulto para o povo português.

Estas incursões de Jardim são já bem conhecidas dos portugueses em geral, de tal forma que já existe uma quase imunidade nacional à estupidez de algumas das afirmações proferidas pelo líder regional em causa. Algo interessante é a evolução isolada de Jardim na ilha da Madeira, segundo Darwin a evolução dá-se conforme as necessidades e o meio ambiente envolvente; um ser que nunca viu oposição capazmente forte, tornou-se em alguém que pensa que passa por cima de tudo e de todos sem ter quem lhe chame à atenção para esse facto. Esse ser acaba por instaurar um regime muito peculiar no seu território, e é desse mesmo território que envia os seus ‘recados’ xenófobos e racistas e ainda se dá ao luxo de, por um capricho seu, demitir-se e voltar a candidatar-se ganhando de novo as eleições. O pior é que a razão para fazer esse amuo caprichoso é o corte a nível financeiro no orçamento para o seu território, e o mesmo senhor que se encontra tão preocupado com as dificuldades que a sua ilha enfrentará por essa mesma medida, acaba por levar a um gasto em nada modesto na nova convocatória de eleições e é claro na sua simples e discreta campanha eleitoral.

domingo, 27 de julho de 2008

Maria de Lurdes Rodrigues, a Ministra e a Senhora.


Maria de Lurdes Rodrigues. É o nome pelo qual se dá a ministra da educação do décimo sétimo governo constitucional da República Portuguesa.

Aquela que tem dado muitas dores de cabeça aos professores e alunos deste país, a senhora que não recusa debates nem entrevistas, aquela que responde a todas as questões de forma politicamente correcta sem nunca perder o dom da palavra e muito menos a postura. Não sei se todos já puderam ou não colocar-se apartados das políticas desta ministra e independentemente dos seus resultados perceber bem a Senhora que é Maria de Lurdes Rodrigues. Repare-se na forma como se apresenta, sempre de postura extremamente correcta em público e nunca abandonando a sua forma de estar. Até aqui estas características não seriam nada de mais para qualquer pessoa e até exigíveis a qualquer um, mas a questão reside na pressão que se abate sobre esta senhora quando é ela que tem que dar a cara perante as políticas do governo, enfrentado os apupos, sendo vaiada e ouvindo as ofensas de milhares de portugueses em fúria.

Há dias, quando entrevistada por Bento Rodrigues na SIC e em directo, Maria de Lurdes Rodrigues foi fortemente atacada por este jornalista já que o mesmo pretendia de si uma afirmação que de uma forma, ou de outra, reflectisse o alegado facilitismo que teria sido colocado em prática nos exames nacionais de Português e Matemática. Ora, a dita senhora conseguiu sem muita dificuldade deixar claro que não iria responder às questões enquanto não lhe permitissem falar e terminar as ideias que estava a esclarecer. Tudo isto com a descrição que lhe é característica.

Não se pretende com este reparo inferir conclusões que sejam reflexo da menor ou maior qualidade das políticas da ministra em causa, mas sim ter também a capacidade de discernir a postura das figuras da política nacional que muitas vezes nem prezar o seu estatuto conseguem, o que não é o caso. Sejamos justos!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Salazarismo Fervilhante

Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado

Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado

As Portas Que Abril Abriu - José Carlos Ari dos Santos


A crise, quer ela seja social, económica ou política sempre serviu de pretexto à implementação de regimes totalitários. Ao longo da história sempre se assistiu à tomada do comando de países inteiros por homens que se consideraram capacitados de soluções únicas e que só eles mesmos poderiam colocar em prática; assim foi em Portugal, e assim continua a ser em muitos locais por este mundo fora. Mais comovente é ver que com maior ou menor intensidade, os próprios povos são coniventes no inicio da meada que está na génese destes mesmos regimes, ou porque o Demo-liberalismo não tem nem terá capacidades para fazer frente às depressões, ou por outro lado, porque o temor do outro extremo ideológico se apodera do censo comum e quase que se permite e considera normal todo e qualquer atentado às liberdades básicas que hoje em dia temos como asseguradas.

Até 1945 o modelo simpaticamente oferecido aos Portugueses por António de Oliveira Salazar era para todos a solução dos problemas que até ai tinham assolado a nação. Os Portugueses confiavam no Estado Novo! E o Estado Novo correspondia triunfalmente às suas necessidades e expectativas. Já após o final da segunda guerra mundial o panorama muda e a derrota do modelo Nazi imputa em Portugal uma mudança estratégica que é reflexo da consciência que o próprio regime tinha de si mesmo: um regime conservador, autoritário, anti-democrático e corporativista.

Os anos seguintes caracterizam-se por um conjunto de jogadas e manobras sujas e dogmáticas que o Estado Novo coloca em prática para controlar as vozes que contra si se manifestavam. A agonia do povo português atinge o seu auge aquando da adição da guerra colonial à conjuntura que só por si já era de um país a definhar.

A 25 de Abril de 1974 Portugal vê a sua situação alterar-se. Em poucas horas um regime que parecia inabalável cai de forma pacífica e digna!

Foram anos de adaptação a uma nova realidade, a liberdade. Essa aprendizagem, se não estou em erro, ainda hoje continua e assim continuará.

A saga continua e a memória curta ajuda! Parece que trinta e poucos anos depois os Portugueses voltam, em contexto de crise aguda, a invocar as qualidades sobrenaturais do Estado Novo e do seu afamado líder, Salazar. Os movimentos com afecção à direita começam a invocar de novo a necessidade de um novo Salazar, e de repente tudo aquilo que era repugnante e reprovável, o que era um atentado às liberdades individuais, passa a ser o remédio para todos os males. Mais que nunca os conhecidos nacionalistas extremos e os partidos aos quais se aliam estas mesmas facções societais perdem a vergonha de se dar a conhecer e de colocar até em prática as sua aspirações racistas, homofóbicas, anti-semitas… e como que por magia voltamos muitos anos atrás e estamos a reviver os anos do Salazarismo, do Fascismo e até do Nazismo. Esquecemos todas as situações nas quais aparentemente parecíamos ter errado e fazemos uma fabulosa viagem no tempo, motivada lá está pela dita crise em que Portugal se encontra mergulhado. Até porque quando estamos bem não existe necessidade de formular desculpas tão rebuscadas para os nossos problemas como colocar as causas da crise nos emigrantes provindos do leste, do Brasil, das Áfricas ou de qualquer outra parte do mundo.

Não é preciso ir mais longe do que passar pelo famoso web site YouTube, basta dar uma vista de olhos pelos comentários dos cibernautas que de forma gloriosa exaltam o regime que durante tantos anos conseguiu fazer uma coisa como ninguém faria tão bem: tornar os Portugueses num povo manifestamente ignorante e que ainda hoje procura colmatar a distância que tem relativamente aos seus parceiros europeus.

Agora pergunto eu: com os mecanismos de repressão e comprometimento da liberdade de expressão dos Portugueses que o Estado Novo colocou em prática, quem não conseguiria realizar semelhante afamada obra? Afinal não é assim tão complexo levar o escravo a dar elevado rendimento se o escravo não passa disso mesmo, um escravo!

Parece que a lição do Salazar ficou bem dada, de tal forma que perdura até aos dias de hoje.


O maior português dos ultimos séculos. No seu tempo, havia liberdade para servir o país e era proibido traí-lo. Depois do 25 de Abril (o maior insulto à nossa hitória) não há liberdade para servir o país, apenas para destruir Portugal.

Comentário de um utilizador do YouTube no vídeo relativo ao funeral de Salazar


quinta-feira, 24 de julho de 2008

Acordo Ortográfico e os Velhos do Restelo



“Mas um velho d'aspeito venerando, Que ficava nas praias, entre a gente, Postos em nós os olhos, meneando Três vezes a cabeça, descontente, A voz pesada um pouco alevantando, Que nós no mar ouvimos claramente, C'um saber só de experiências feito, Tais palavras tirou do experto peito:”

Os Lusíadas, Canto IV, 94

Cavaco Silva promulgou ainda há dias o documento que se dá pelo nome de Acordo Ortográfico, esse documento visa a uniformização do Português escrito ao nível dos países de língua oficial portuguesa, a CPLP. As modificações operadas no Português europeu são meramente denotáveis no que concerne à grafia e não à oralidade, como de resto está previsto que aconteça em todos os países que ratificarem o acordo em causa.

Trata-se de um novo passo no caminho da unificação daquela que é uma das mais ricas parcelas da cultura portuguesa, a língua portuguesa, e que pela sua disseminação pelo mundo ao longo de séculos acabou por adquirir dinâmicas e especificidades próprias das limitações geográficas.

Hoje, como desde algum tempo atrás, começam a despontar os velhos do Restelo que procuram boicotar aquele que é um processo de adaptação à modernidade e a tentativa de equiparar dois conceitos fundamentais: Globalização e Comunicação. Se é possível o homem entender-se ainda que entre si operem idiomas distintos, neste caso não está em causa a procura pelo entendimento mútuo, uma vez que este já é possível entre os diversos povos da CPLP. Procura-se tornar mais una aquela que é a língua mais falada e simultaneamente a quem menos importância se dá no contexto internacional. É um facto.

Ocorrem queixumes que interpelam a identidade nacional, queixumes que colocam a identidade de um povo em palavras que elas mesmas expressam a incapacidade de “vanguardar”. São palavras que graficamente exigem segmentos não expressos na oralidade de todos nós, palavras que ao nível de países como o Brasil já se encontram perfeitamente adaptadas à realidade prática.

Existem ainda os velhos do Restelo que falam numa espécie de tentativa de liderança por parte do “Brasileirês”. Não considero de forma alguma que se trate de uma questão de domínio seja sobre quem for, antes sim é a expressão não de um verdadeiro domínio, que não existe, mas de complexos de inferioridade infundados. O Português é só um e se diferenças existem, estas são geográficas, às quais acrescem os respectivos sotaques e a maior ou menor capacidade de cada variante do português se tornar mais prático e aproximado à oralidade.

Eduardo Lourenço. não pode deixar de ser feita referência a uma das personalidades do contemporâneo opinativo português cujos pareceres são tidos como modelos de grande valor, fruto do seu indubitável mérito e da sua sabedoria adquirida pela experiência, que aliás foi também qualidade daquele que C'um saber só de experiências feito olhou para o Tejo de onde partiram as naus e proferiu os presságios de uma aventura que supostamente acabaria na desventura. Contudo o velho de outrora não teria acesso nem capacidade para elaborar uma recolha de assinaturas que impedisse a aventura na travessia que viria a dar a Portugal o tempo áureo do seu apogeu.

A realização e o sucesso não são resultado do continuado estudo sobre aquilo que já são teses estabelecidas, mas sim a ousadia de procurar novas teses que melhorem ou substituam as anteriores. É por isso que a modernização do Português não pode ser vista como um incómodo ou como uma ideia que ofenda valores ancestrais. Vejamos isto como mais uma etapa de crescimento daquela que é a nossa língua.

Para contextualizar: Notícia IOL